Uma prequela diferente

Lightyear é, no mínimo, um projeto peculiar. É complicado deixar de lado nosso carinho com o brinquedo Buzz Lightyear para conhecer sua faceta “real” dele. Ou melhor, a história do homem que inspirou o boneco. Mas antes de desenvolver esse argumento, eu me perguntei, tanto na sala de cinema, quanto escrevendo esse texto: qual é a justificativa para a existência desse filme? Bom, se formos pensar de maneira simplificada, é claro que estamos vendo – mais – uma manobra da empresa de ainda surfar no sucesso da franquia. Sendo que, é bom lembrar, Toy Story 4, também sofreu do mesmo problema. Foi um filme bem-feito, com bons momentos, mas insuficientes para justificar sua existência.

História

Lightyear até começa bem, principalmente pela sacada do diretor Angus MacLane (de Procurando Dory), que também co-escreveu o longa, ao lado de Jason Headley (Dois Irmãos), em fazer desse filme ser o mesmo que Andy viu nos cinemas lá em 1995, e que posteriormente, ganharia seu próprio boneco. Outra coisa legal resgatada aqui, é que Lightyear, dentro do universo Toy Story, é como se fosse um Star Wars, e o fato do Andy ter ganho um boneco comandante espacial, seria equivalente a ele ter ganho um brinquedo do Luke Skywalker em nosso universo. Entretanto, as boas sacadas se restringem a essa ligação com Toy Story. Porque quando vamos nos aprofundar em Lightyear (dublado por Chris Evans) em sua missão ao lado de um grupo de recrutas ambicioso (nas vozes de Keke Palmer, Dale Soules e Taika Waititi), e seu companheiro robô Sox (Peter Sohn) em uma missão a anos-luz da Terra, temos uma aventura simples e nada épica como o longa se vende. Tal qual um episódio padrão de Star Trek, a tripulação está num planeta a anos-luz da Terra, em que acabam ficando presos neste lugar por conta de um erro do próprio Buzz. A missão do herói é contornar seu próprio erro e salvar sua tripulação.

Apatia

Se em Toy Story, o mote da franquia é amizade, Lightyear escolhe a coragem como tema central. O que não é ruim, visto que esse é um paralelo com o arco de desenvolvimento do boneco no primeiro Toy Story. O grande problema desse tema Lightyear, é a forma que ele é desenvolvido. Como citado acima, estruturalmente, Lightyear é um filme de ficção científica espacial, que naturalmente aborda termos e assuntos mais complexos, o que é um problema ao tentar simplificar tudo para o público infantil. No fim das contas, os elementos de ficção científicas são rasos para um longa do gênero, assim como ele não é uma ópera espacial que divertiria crianças como o Andy em 1995. Por outro lado, vemos uma forte assinatura da Pixar quando o longa utiliza da já conhecida estrutura de desenvolvimento de protagonistas enquanto o mesmo busca a volta para casa – nesse caso, volta à Terra -, e isso é muito bem-feito. Na verdade, Lightyear não comete erros narrativos, tampouco técnicos, e definitivamente, não é um filme ruim. Mas pior que isso, ele é apático.

Personagens

Assim como Star Trek, que conseguia contornar histórias mais fracas graças ao carisma do seu elenco, Lightyear acaba apresentando diversos personagens secundários interessantes, e com a ajuda destes, não o tornam a história mais entediante. Os destaques ficam para Peter Sohn dublando o gatinho robô Sox, rouba o filme para si, e, claro, para o marco histórico que é a personagem Izzy Hawthorne, que além da representatividade, ela é fundamental para a conclusão de arco do longa, e do protagonista. Vale ressaltar que assistimos o longa em uma sessão legendada, sendo assim, não dá para avaliar a performance de Marcos Mion dublando o personagem-título.

Direção de arte

Se boa parte desse texto foi dedicado a críticas em questões narrativas do longa, já em direção de arte, Lightyear faz o caminho oposto. Ouso a dizer que essa é uma das animações 3D mais belas de todos os tempos. O nível técnico nos detalhes, que vão do detalhismo quase realista das naves, até mesmo o preciosismo de poeira espacial, é de cair o queixo. Mais impressionante ainda é como a Pixar conseguiu polir tudo isso em uma animação com personagens cartunescos. Aliás, o design dos personagens é outro grande acerto artístico, diferenciando cada tripulante de forma em que as personalidades casam com o visual de cada um. Até mesmo a estranheza inicial desse “Buzz realista” acaba logo nos primeiros minutos de projeção do longa.

Referências

Além de Star Wars e Star Trek, Lightyear também presta homenagens a outras grandes obras da ficção científica. MacLane parece se divertir muito em trazer planos abertos (no planeta) e fechados (dentro da nave) muito parecidos com os que Ridley Scott fez em Perdido em Marte; e até mesmo momentos de suspense que evocam Alien – O 8.º Passageiro, do mesmo Scott. Já as cenas de espetáculo visual no espaço transitam entre o fantasioso, como conhecemos em Star Wars, com pitadas realistas, como vimos em Gravidade e Interestelar. Esse último, a propósito, também inspirou na trilha sonora incidental poderosa composta por Michael Giacchino, compositor justamente o último Toy Story e do um filme de Star Wars (Rogue One).

Conclusão

Visual, trilha sonora, cinematografia, além do revigorante papel de destaque de uma personagem negra LGBTQIA+, faz de Lightyear ser um filme notável, e até mesmo muito importante. Mas, tratando-se de uma história do universo Toy Story, a obra peca na falta do coração, o que pode acabar desapontado você, assim como eu fiquei. Lightyear vai ao infinito, mas definitivamente, não é um filme que vai além. Veja também: Se quiser aproveitar o clima espacial, confira nosso artigo com tudo que você precisa saber sobre a terceira temporada da série de ficção científica For All Mankind.

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