Derivado do petróleo, o plástico é barato, resistente, funcional e vilão do meio ambiente. O Brasil é o quarto maior produtor de lixo plástico no mundo. O país sul-americano gera 11,3 milhões de toneladas por ano e recicla apenas 1,28%. Os Estados Unidos, a China e a Índia lideram a lista com números preocupantes: 70,7 milhões, 54,7 milhões e 19,3 milhões de toneladas, respectivamente. Os dados foram divulgados pela ONG ambiental WWF. A pressão sobre sacolas plásticas e canudos foi o primeiro passo para a redução, e agora o debate está em torno do uso exorbitante desse material em serviços de Apps de delivery de comida.

Conceito Lixo Zero (Zero Trash)

Você compra um shampoo, joga fora a sacola, a nota fiscal, a caixa e a embalagem do produto assim quando termina. Para muita gente pode parecer uma prática normal, mas não é. E o conceito de Lixo Zero tenta combater justamente essa geração desordenada de resíduos. Ele consiste em reduzir — ou até eliminar — a geração de resíduos que depois serão misturados inadequadamente. Para isso, o movimento segue quatro pilares fundamentais: o de repensar, reutilizar, reduzir e reciclar. Partindo dessas premissas, o indivíduo passa a recusar canudo de plástico nos restaurantes e deliverys, evita saquinhos e sacolas, faz compostagem, usa o próprio guardanapo de pano, dentre outros hábitos, a fim de não produzir lixo dentro e fora de casa. Adotar o modelo Lixo Zero é um conceito de vida, no qual a pessoa e as organizações das quais ela está inserida passam a refletir sobre os resíduos que geramos, seu descarte correto e medidas que estimulem novas formas que substituam o plástico, por exemplo. Diante disso, alguns atores são responsáveis por fomentar esse conceito, são eles: a indústria, encarregada pela produção e design desses itens; o comércio, que repassa esses produtos à sociedade; o consumidor, que finaliza essa cadeia, pois consome e depois descarta; e o governo, agente responsável por harmonizar as responsabilidades da comunidade e indústria em prol de uma vida Zero Trash. O Instituto Lixo Zero Brasil explica que há empresas deixando o sistema de economia linear, que se constitui em extrair, produzir, consumir e descartar. Para mudar esse conceito, elas começaram a apostar na economia circular, onde o que seria descartado no lixo, vira retorno do que sobra dos resíduos e matéria-prima. Localizada em São Paulo, a MAPEEI 1VSP, foi a primeira loja Lixo Zero do Brasil. Além de comercializar produtos que não geram resíduos, a empresa começou a adotar medidas como não fornecer sacolas plásticas e nem recibo da maquinha de cartão — a nota fiscal é enviada no e-mail do cliente. A política de eliminar o lixo já é empregada em cidades dos Estados Unidos, Brasil, Itália, Eslovênia, Japão, África do Sul e Filipinas. Em São Francisco (EUA), 87% da região já adotou essa filosofia. Na Itália, 270 cidades já atingiram a meta Zero Trash. Florianópolis planeja ser a primeira cidade Lixo Zero do país. A administração pública quer ser a primeira a dar o exemplo e prevê desviar 90% dos resíduos secos que iam para aterros até o ano de 2020. O objetivo é fazer com que a região seja 100% Lixo Zero até 2030. Na prática, com a ajuda da população e outras organizações, mais de 100 mil toneladas de resíduos deixarão de ir para aterros sanitários anualmente.

Gigantes do delivery

Segundo uma pesquisa do Instituto QualiBest, a foodtech brasileira iFood, líder no setor na América Latina, é o aplicativo mais conhecido, com maior uso e consideração de público; 93% é a taxa de conhecimento do App. O Uber Eats vem na sequência com 32%, e o colombiano Rappi aparece logo após com 17%. Os pedidos feitos diretamente nos Apps de restaurantes representam 28%. Pedido de comida pronta e mobilidade (táxi e carros particulares) lideram as compras feitas via aplicativos. Quanto ao delivery, o brasileiro gasta em média R$ 38 por refeição. Já o principal meio de pagamento é o dinheiro, seguido do cartão de débito/crédito. Comodidade e variedade são características dos aplicativos de delivery de comida. O setor vem crescendo exponencialmente e gera R$ 11 bilhões ao Brasil a cada 12 meses. Mas essa elevação custa caro ao meio ambiente. Apps de alimentos e compras feitas pela internet são as maiores fontes de resíduos com materiais difíceis de reciclagem. E no caso do alimento, muitos desses descartáveis utilizados no embalamento não são reciclados. Indicadores internacionais apontam que 80% do lixo marinho são oriundos do ambiente terrestre. Segundo a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), o material plástico é o resíduo mais encontrado no mar. Ele aparece em primeiro lugar com 52,5%, entre plástico filme, hastes plásticas, isopor e pequenos tubos plásticos. Em segundo lugar está a bituca de cigarro, responsável por 40,4% do lixo coletado.

Quem se preocupa com a redução de descartáveis

No Brasil, apuramos que o Uber Eats já atua na redução de consumo de descartáveis. Antes de fechar o pedido, o cliente pode selecionar uma das opções sobre o envio desses utensílios: “Não, quero ajudar a reduzir o consumo de plástico” ou “Sim, preciso de descartáveis”. Os restaurantes participantes possuem um selo, dentro do App, de uma folhinha verde, acompanhado da frase: “restaurante com uso de plástico reduzido” —, no entanto, nem todos são participadores da campanha. Para comentar sobre o conceito Lixo Zero, o Showmetech procurou as três principais empresas de delivery do país (iFood, Uber Eats e Rappi):

iFood

Em nota enviada à nossa reportagem, o iFood informou que o restaurante consegue, por conta própria, incluir no seu cardápio uma opção de pergunta para que o consumidor possa escolher receber ou não itens descartáveis. A empresa adiantou em primeira mão que está desenvolvendo a inclusão de uma pergunta padronizada para o usuário escolher se deseja ou não receber talheres plásticos, guardanapos, canudos e sachês.

Uber Eats

O Uber Eats, como já mencionamos, reforçou sua estratégia de redução dentro do App. Também informou que 200 mil descartáveis deixaram de ser utilizados pelos clientes nos primeiros dois meses após o lançamento da função.

Rappi

A Rappi, por sua vez, enviou uma nota, afirmando que a empresa está constantemente buscando as melhores práticas de mercado para aprimorar seus processos e desenvolvendo medidas para incentivar uma operação ainda mais sustentável. Luciana Moralles, advogada do escritório Finocchio & Ustra Sociedade de Advogados, explica que ainda há complexidade em reduzir ou zerar os descartáveis em deliverys de comida, visto que existem diversas regras de segurança alimentar que buscam impedir a contaminação do alimento. Em decorrência disso, órgãos reguladores (ANVISA, Vigilância Sanitária e Ministério da Agricultura) terão que integrar em suas normas a dinâmica da economia circular. Mesmo com esse desafio, o melhor caminho ainda é estimular os consumidores a solicitarem talheres, guardanapos, temperos, adoçantes em quantidades que realmente necessitam. “Aplicativos de entrega de comida estão afogando a China em plástico”, assim classificou o NYT em uma reportagem de maio deste ano. A potência tecnológica que a China se tornou, não é de se estranhar a eclosão bem-sucedida dos Apps de delivery no país asiático. Contudo, cientistas indicam que o negócio de delivery online na região foi responsável por 1,6 milhão de toneladas de resíduos (embalagens) em 2017. Em 2018, esse número saltou para dois milhões de toneladas – Meituan e Ele.me são os principais serviços de entrega por lá. Procuradas pelo jornal estadunidense, a Meituan informou que está comprometida com a redução e disse adotar iniciativas como permitir que os usuários escolham não receber talheres e descartáveis. A Ele.me, que faz parte do e-commerce Alibaba, não quis comentar. Embora tenha muito a ser feito, os chineses estão começando a adotar boas medidas de tecnologia verde, principalmente com relação ao clima. A tecnologia gera uma profusão de oportunidades para resolver as complexidades do mundo contemporâneo. Quando o assunto é reaproveitamento e redução do consumo de plástico, ela se mostra ainda mais eficiente. Grandes exemplos estão surgindo pelo mundo fomentando o conceito Lixo Zero. É o caso da Go Box, criada por Laura Weiss, que fornece embalagens reutilizáveis no centro de Portland (EUA) para fornecedores de alimentos e seus clientes. Através do aplicativo, o consumidor localiza o restaurante e retira sua comida em uma embalagem Go Box. Ao terminar, a pessoa faz a devolução em caixas espalhadas pela cidade. Em seguida, a equipe da Go Box vai retirar de bicicleta e entrega novamente para as lanchonetes. A fundadora diz ter salvado 100 mil recipientes que seriam descartados em aterros. A Fresh Bowl é outro bom exemplo. Com cerca de 17 produtos no cardápio incluindo saladas, macarrão, pudim, ovos e sucos, o negócio desenvolvido pela francesa Chloe Vichot cria refeições prontas que ficam em máquinas parecidas com as de refrigerantes. Na tela, você escolhe a salada, faz o pagamento com um cartão e pronto. A Fresh Bowl ainda disponibiliza garfo de bambu, que pode ser jogado no lixo orgânico. Quando terminar de comer, é só escanear e devolver o pote na mesma máquina, sem a necessidade de lavar. Para estimular o consumo consciente, na devolução, o cliente recebe um desconto na próxima compra de salada. Os mercados sem plástico também estão em alta. No Brooklyn, Nova York, a The Fillery e a Precycle são lojas Lixo Zero, que trabalham com comida a granel. O objetivo é evitar qualquer tipo de plástico. O consumidor pode levar seu pote de vidro ou comprar no próprio estabelecimento, então ele coloca o alimento, pesa e leva para casa. Para ser bem justo, eles não cobram o peso do pote. Outro serviço que vem ganhando cada vez mais destaque é o Loop Store, criado pelo empresário Tom Szaky, a empresa se aliou a cinco multinacionais da indústria para adotar modelos mais sustentáveis de consumo. Os pedidos podem ser feitos na internet e, ao invés de receber na embalagem comum, você recebe em casa o mesmo produto, mas em embalagens de metal ou recipientes mais duráveis. Quando acabar, a pessoa envia os utensílios de volta para a Loop Store lavar e reutilizar. Especialistas dizem que até 2050 vai ter mais plásticos do que peixe no mar. A produção de plástico vem crescendo demasiadamente e nunca conseguimos, efetivamente, chegar numa solução para elevar o reaproveitamento. No entanto, a tecnologia está disponível para incentivar novas maneiras de consumo. Fontes: WWF; Instituto Lixo Zero Brasil; Instituto QualiBest; Abrelpe; The New York Times.

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