Como o estupro no metaverso ocorreu

A informação foi divulgada em maio no relatório Metaverse: another cesspoll of toxic content (Metaverso: outro mar de conteúdo tóxico, em tradução livre), criado e distribuído pelo grupo sem fins lucrativos SumOfUs. No relatório, é explicado que alguns usuários do metaverso, ao encontrar a pesquisadora, convidaram-na para um espaço privado dentro do Horizon World. Logo depois, pediram para que ela desligasse uma configuração que bloqueava outros avatares virtuais de chegarem a distâncias menores de 1,2 metros dela. No vídeo divulgado junto do relatório, é possível ver então que no ambiente privado no metaverso, os participantes que convidaram a pesquisadora estavam passando uma simulação de uma garrafa de vodka entre si, enquanto faziam comentários impróprios para a vítima e também forçavam ela a ficar de costa entre eles enquanto simulavam atos sexuais. No relatório, a pesquisadora afirma que mesmo tendo ocorrido no mundo virtual, a experiência a deixou incomodada, principalmente por detalhes como o controle de seu avatar vibrar toda vez que um dos agressores a tocava no metaverso, dando um tom físico para o abuso. Ela destaca que mesmo tendo sido uma terrível experiência, o estupro no metaverso pôde ser abordado em seu estudo, evidenciando que é possível ocorrer abuso no metaverso. O vídeo da violência está disponível online. Lembramos que, por ser tratar de um conteúdo relacionado a violência sexual, mesmo que virtual, são segundos tensos e que podem fazer pessoas não se sentirem bem.

Os problemas de redes sociais e abusos online, além do metaverso

O estupro virtual relatado em maio para o grupo SumOfUs mostra que o metaverso está avançando, mas não está pronto ainda para a maioria dos comportamentos humanos — principalmente pelo fato que esses ambientes virtuais podem, muitas vezes, simular situações que ocorrem na vida real, que permitem violência de gênero, além de exemplos de ofensas homofóbicas, racistas e outros tipos de preconceitos, mesmo que formas diferentes da que se veja em carne e osso. Ao mesmo tempo em que o ponto do grupo SumOfUs faz sentido, é também necessário ver como a internet em geral se comporta em situações semelhantes, com plataformas como o Twitter e o Facebook — também da Meta — sendo constantemente alvos de críticas por permitirem comportamentos extremamente nocivos e tóxicos. O mundo das lives também não é diferente, com constantes casos de streamers que representam minorias sofrendo ofensas constantes e ataques de audiências tóxicas só pelo fato de integrarem grupos um tanto quanto marginalizados. As plataformas — como a Twitch — podem até responder banindo contas envolvidas, mas é inegável que o estrago já foi feito.  Neste cenário, então, acaba sendo notável que violência de gênero, racismo, preconceitos em gerais e comportamentos tóxicos online são um problema da internet — embora no metaverso, alguns fatores possam torná-los ainda mais perigosos.

Gatilhos de trauma estão presentes em estupro virtual

A psicologia há muito trabalha a questão de gatilhos de trauma, situações que ocorrem de diversas formas e podem ocasionar lembranças de sobreviventes de abusos e deixá-los desnorteados. Muitas vezes, em redes sociais, mesmo conteúdos escritos podem desencadear esses tipos de reação, assim como vídeos. No caso do metaverso, porém, a situação ganha mais um agravante: a realidade virtual e impulsos como a vibração do controle descrita pela pesquisadora dão um aspecto mais real do abuso. Assistir vídeos e ler algo coloca o público em uma situação em que ele é um observador externo das situações, e mesmo assim já pode ocasionar gatilhos. Imagine então uma situação em que a pessoa está tendo seus sentidos aguçados para parecer estar em outro ambiente, como a realidade virtual? Gatilhos podem ser perigosos e levar pessoas até mesmo ao suicídio. No fim, o feedback de sensações causadas pelo metaverso pode ser muito maior que somente ler ou assistir algo, e então o certo seria que ele fosse ainda mais moderado. A questão é que essa moderação talvez seja algo difícil, tanto mercadologicamente quanto legalmente, já que poderia envolver violações de dados pessoais para um monitoramento mais preciso. E, legalmente, a questão ainda é muito nova para se entender como a Justiça de diferentes países irá encarar a situação, mas para especialistas de comportamento online em entrevistas sobre o tema para publicações como o The Independent, o problema é sério, e tem que começar a ser debatido — seja através de mudanças na moderação de conteúdo, ou como as empresas responsáveis pelos metaversos devem disponibilizar os dados às autoridades ou mesmo as punições para abusadores. De qualquer forma, o estupro virtual é uma realidade triste, que também reflete o que muitas pessoas sofrem na vida real — e o que era para ser um lugar de escape, no fim só vira mais um lembrete macabro do mundo atual.  Veja também Em uma nota mais positiva quanto a tecnologia, confira novidades do metaverso divulgados na Meta Summit Latam. Fonte: Business Insider, Refinery29

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