A fim de quantificar o apetite dos brasileiros para consumir, o levantamento considera diversos fatores, como a percepção das famílias sobre sua renda, emprego e condições para comprar. Para que o índice seja considerado satisfatório, no entanto, é preciso que a intenção de consumo das famílias esteja acima dos 100 pontos, o que não ocorre desde abril de 2015, quando o ICF nacional registrou 102,9 pontos. Em maio de 2020, segundo dados da própria CNC, o consumo das famílias brasileiras marcava 81,7 pontos, e apesar de esse ser um número mais alto que o registrado agora, ele já representava uma queda expressiva em relação a março. Naquele mês, a pandemia de COVID-19 começava a chegar ao Brasil e o índice registrava 99,9 pontos. O impacto da pandemia fica especialmente claro quando, comparado a dezembro de 2019, o índice desse mês representa uma queda de 25,1% na predisposição das famílias em consumir. Apesar da alta, portanto, esse é o pior número registrado num mês de dezembro desde que o ICF foi criado, em 2010. E devido a esse ser um mês bastante aguardado pelos varejistas, em especial pelas vendas de natal, a queda em relação aos anos anteriores ganhou destaque na mídia.

Então o que há a comemorar?

Apesar da redução expressiva ao longo do ano, o salto registrado em dezembro é a quarta alta consecutiva do índice. Na prática, isso mostra que o ICF vem crescendo constantemente nos últimos meses, com as famílias brasileiras retomando, ainda que pouco a pouco, seu patamar de consumo. Segundo José Roberto Tadros, presidente da CNC, a expectativa é de que, com a vacinação contra COVID-19 tomando corpo no Brasil, a retomada do consumo seja estável e ganhe força em 2021. Conforme também aponta outro membro da CNC, dessa vez a economista Catarina Carneiro, os resultados positivos do ICF aumentam as expectativas de longo prazo para a economia. Ela cita, por exemplo, que a perspectiva profissional para o próximo semestre teve o maior crescimento no mês. Da mesma forma, os brasileiros não tinham uma percepção tão positiva sobre o futuro do mercado de trabalho desde maio de 2020, mostrando que a confiança sobre a oferta de empregos melhorou. Em sua matéria sobre o estudo, a Agência Brasil revela que, dos sete tópicos usados para calcular o indicador em dezembro, seis apresentaram alta na comparação com novembro. A confiabilidade acerca do emprego atual subiu 0,6%; a renda atual 1%; a perspectiva profissional 3%; o acesso ao crédito 1,4%; o nível de consumo atual 0,9% e a perspectiva de consumo também subiu 1%. Nessa variação mensal, o único ponto que registrou queda foi a avaliação de momento para a compra de produtos duráveis, que caiu 0,2%. Além de indicar a intenção de consumo nacional, o estudo também fez avaliações divididas por região e faixa de renda. Nas famílias que recebem mais de dez salários mínimos, o índice de intenção de consumo atingiu 82,6 pontos, com um aumento mensal de +1,4%. Já nas famílias com ganhos abaixo dessa quantia, o indicador atingiu 70,1 pontos, avançando +1,2% em relação a novembro. Ao consultar as famílias sobre seu nível de consumo atual – ou seja, se estão consumindo, em dezembro de 2020, mais ou menos que em dezembro de 2019 – o estudo ainda concluiu que a maioria, 59,2%, afirma estar consumindo menos agora que no último ano. Por outro lado, o número de famílias que acredita estar consumindo mais nesse mesmo período atingiu 14,2%, um salto de 0,9% em relação ao mês passado. Analisando a situação por regiões, o estudo concluiu que o Sul é a região com o maior índice de intenção de consumo, com 75,2 pontos. Enquanto isso, as famílias da região Norte alcançaram 66,4 pontos, apresentando o menor indicador. Na hora de verificar qual ICF cresceu mais em comparação ao mês passado, a CNC verificou que o Centro-Oeste, com 71,9 pontos, teve a maior alta (+2,6%). Já a maior região do Brasil em densidade populacional, o Sudeste, atingiu 72,4 pontos esse mês, um salto de 1,2% em relação a novembro.

Emprego e perspectiva de consumo

Ainda de acordo com o relatório, outro ponto positivo vislumbrado em dezembro foi a segurança das famílias em relação ao emprego atual: 32,8% delas afirma que se sente tão segura com seu emprego agora quanto no ano passado. Já aqueles que se sentem menos seguros sobre o futuro de seus postos de trabalho chegam bem perto, compondo 32,0% dos entrevistados. Apesar de parecer uma situação “metade-metade”, o percentual de otimistas nesse tópico em 2019 era de apenas 25,9%. No relatório completo divulgado pela CNC, é possível conferir as tabelas com o índice mensal de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) desde 2010. Na mesma página, também é possível baixar o relatório e conferir todas as impressões acerca dos pontos levantados na pesquisa, como a percepção do consumidor sobre acesso ao crédito e sua perspectiva de consumo. A maioria das famílias, 55,7%, acredita que vai consumir menos no próximo trimestre, mas 23,1% delas, 1% a mais que em novembro, espera consumir mais. Fonres: CNC, InfoMoney, Agência Brasil

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