Mas, com o avanço da informática e com a exigência da prática de escrita digital na rotina de trabalho e estudos, a letra cursiva vai desaparecer? Existem alguns especialistas que reforçam que o ensinamento da letra cursiva pode ser ineficiente. O motivo está relacionado ao fato de que muitas crianças com alto desempenho acadêmico muitas vezes são mais julgadas por não apresentarem uma escrita à mão bonita ou legível, do que gratificadas pelo raciocínio intelectual que desenvolveram.  Você também pode assistir ao nosso vídeo sobre o tema no nosso canal do YouTube:

A letra cursiva e o método anacrônico 

Outros acadêmicos concluem que a caligrafia em letra cursiva como ferramenta de ensino já não é mais uma habilidade essencial, afinal, com a existência de computadores e dispositivos tecnológicos, a escrita manual em lápis, papel e caneta acaba tornando-se uma atividade analógica e anacrônica. O que parece ser apenas um detalhe, na verdade, é motivo de debate entre profissionais do âmbito da educação. O valor do ensino de escrita cursiva vem sendo reavaliado nos últimos anos. Em 2015, por exemplo, países como a Finlândia, além de alguns estados americanos, já se posicionaram em relação à possibilidade de o método manual ser excluído do ensino, visto que as ferramentas digitais estão se expandindo cada vez mais. Consequentemente, ao tornar a escrita digital o novo normal no dia a dia, a dedicação ao ensino da letra cursiva e da caligrafia acaba sendo algo obsoleto para demandas que exigem atuação digital.  Outro fator que contribui para a reavaliação do papel da letra cursiva na alfabetização — e no ensino em geral — está relacionado ao momento atual em que o mundo se encontra. Durante a pandemia, as instituições de ensino e empresas implantaram a atuação remota, portanto associando a caligrafia e a escrita à mão a apenas um ato mecânico não essencial. Assim, dando prioridade para o aprendizado de outras áreas e competências associadas ao uso de recursos digitais.

O papel cognitivo da letra cursiva

Ainda que “a letra cursiva vai desaparecer” seja uma opinião e um posicionamento muito forte entre os acadêmicos, há quem defenda o valor da escrita à mão em tempos de tecnologia em alta, alegando benefícios cognitivos para crianças e para aqueles que mantém o hábito. De acordo com os estudos realizados pela professora de Psicologia Educacional, da Universidade de Washington, Virginia Beringer, praticar a escrita manual, formando letras, estimula a mente e auxilia as pessoas a prestarem atenção à linguagem. Beringer também pontua que “a caligrafia e a sequência dos traços envolvem a parte pensante do cérebro”, algo que pode ajudar a exercitar o raciocínio a longo prazo. A professora explica ainda que os estudos iniciados com escrita manual têm o objetivo de formar as crianças como escritoras híbridas. Ou seja, o processo já conhecido de utilizar a letra de forma como exercício mecânico e de leitura como incentivo de reconhecimento das letras na educação infantil, além da fase seguinte do uso da letra cursiva para escrita e estruturação de texto. Tudo isso colabora diretamente com o maior entendimento da digitação ao adentrarem no ensino fundamental.  Em entrevista ao UOL, a educadora Maria Helena de Moura Neves, professora de pós-graduação em letras da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e da Universidade Presbiteriana Mackenzie afirma em defesa da letra cursiva: “Quando você se põe a escrever, você não se põe a escrever pensando nas letras, você se põe a escrever pensando no sentido que você vai dar. Seus elementos são símbolos, são signos, são coisas mais compactas, com valor em si, e não fragmentos de sinais”, diz. Como um complemento ao pensamento da professora Virginia Beringer, Maria Helena endossa a importância da letra cursiva ser apresentada às crianças, independentemente de usarem ou não após seu domínio. “Não digo que as pessoas não possam escrever à mão com letra de forma, ou digitar, mas não pode ser subtraído dela a oportunidade de ser apresentada a esse tipo de escrita”, disse ao UOL. Um estudo publicado na Revista Nature, intitulado “Comunicação cérebro-texto de alto desempenho via escrita à mão” (“Hight performance brain to text communication via handwriting”) discorreu sobre o impacto do aprendizado de caligrafia no cérebro e sua importância cognitiva atemporal, por ser uma habilidade essencial a ser desenvolvida, ainda que o mundo esteja em um período de avanço tecnológico. Portanto, de acordo com o estudo, o método da escrita em letra cursiva traz diversos benefícios. Dentre eles, está o exercício da continuidade de pensamento por meio dos traços uniformes ligados; a vantagem de fixar aprendizados ortográficos e a composição de palavras, frases e textos — fatores que auxiliam diretamente na concentração, na memorização e no foco —; e o auxílio na elaboração de textos mais coesos, algo que é indispensável.

O futuro da letra cursiva

É compreensível que esse questionamento venha à tona, ainda mais pelo contexto socioeducacional em que o mundo se encontra. Existe uma necessidade de repensar um método utilizado majoritariamente como exercício mecânico, ou seja, utilizado apenas para realizar cópias sem contexto ou reflexão alguma. Ainda assim, de acordo com os estudos acadêmicos, é inegável sua importância cognitiva no desenvolvimento das crianças em âmbito escolar. Então, uma solução a ser trabalhada seria flexibilizar essa atividade com base na necessidade enfrentada — analisando caso a caso, e, principalmente, a demanda de cada aluno, sem esquecer que cada um tem uma forma aprendizagem particular e alguns precisam mais de métodos manuais que outros.

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