O Showmetech recebeu um cópia de Spiritfarer para Steam (PC) da Thunder Lotus Games e, após algumas semanas guiando espíritos para o além-vida, trazemos uma análise completa dessa bela e profunda obra de arte em forma de videogame.

A Morte e você

Spiritfarer é um game sobre a morte. Você joga como Stella, cujo trabalho é levar os espíritos agonizantes através da Everdoor para a morte final, quando eles estiverem prontos. Bem, essa seria uma forma simples de abordar esse jogo. Mas estaríamos sendo muito superficiais. Spiritfarer é, além de tudo, uma lição sobre gentileza. Ajudar um espírito a ficar pronto para partir para o além-vida envolve conzinhar para ele, abraçá-lo e construir uma casa para ele em seu enorme barco. E para isso você deve cuidar de ovelhas, tocar música para as plantas para ajudá-las a crescer, extrair carvão e aprender até a forjar ferramentas e itens. É um jogo de gerenciamento muito relaxante em que você passa a maior parte do tempo colhendo coisas para fazer outras coisas. Porém, diferentemente de Stardew Valley, em Spiritfarer você realiza diferentes tarefas não em busca de ganhos materiais, mas para melhorar o “final de vida” de seus companheiros de viagem, totalmente de graça. Quando um espírito se junta ao seu navio, você constrói algum lugar para eles morarem, então acaba com uma coleção de pequenas casas empilhadas umas sobre as outras. Entre eles, você coloca outros edifícios de que precisa para o bom funcionamento de uma comunidade: jardins para o cultivo de vegetais, uma serraria e fundição para processar as matérias-primas que você encontra no mundo, um tear para tecer. Cada um dos espíritos em seu barco ensina você a como utilizar uma ou mais dessas infra-estruturas e, depois de construí-las, você pode mover tudo ao redor, empilhando e trocando as coisas à sua vontade como se fossem pequenos blocos de construção de brinquedo. Cada espírito é um animal que representa a pessoa que eles realmente são. Alice, por exemplo, era uma doce e velha senhora (agora era um ouriço) que gostava de comida antiquada e macieiras, e pediu para ir a algum lugar emocionante comigo e, dessa forma, me lembrou muito da minha própria avó. Antes que ela subisse a bordo do navio, eu organizei o layout do meu navio da forma mais sensata possível, com poucos espaços. Porém, logo após isso um dos outros residentes me disse que Alice estava tendo problemas para subir e descer as escadas. Então, reorganizei todo o meu barco especificamente em torno dela e, como ela gostava do pomar, certifiquei-me de que ficasse perto de sua casa. É um tipo de gentileza que o game motiva o jogador a praticar, de uma forma muito sutil.

O fim é apenas o começo

Spiritfarer recompensa você por prestar atenção e tentar ser gentil, e Alice teve um impulso permanente de humor por estar perto do pomar. Eu fiz até mesmo tortas de maçã para ela na cozinha! Cada espírito tem uma lista de gostos e desgostos, e alguns até têm alergia alimentar, e você só pode descobrir todas essas coisas por tentativa e erro. Da mesma forma, o seu livro de receitas é uma folha em branco, então você deve apenas tentar combinar uma raiz vegetal com um pouco de farinha, digamos, e ver o que acontece. É um tipo de quebra-cabeça intrigante e satisfatório, tentar descobrir o que as coisas se tornam quais são as outras coisas, com antecedência. À medida que você executa tarefas para eles, sua diversificada tripulação fará outros pedidos. Eles vão compartilhar memórias e passar por provações, ou podem pedir para ficarem sozinhos. Você pode abraçar todos eles, e isso os anima. O abraço é excelente, porque todos te abraçam de uma forma um pouco diferente, com uma animação que se encaixa com quem são. Astrid, um lince, por exemplo, sempre parece surpresa por um segundo, antes de soltar suas grandes patas. A animação e a arte, de fato, são universalmente belas e cheias de detalhes encantadores. Embora eu tenha mencionado anteriormente que todo o seu trabalho é realizado para nada além da gentileza, fazer seus habitantes felizes traz alguns benefícios. Em certos níveis de humor, eles vão lhe dar objetos de valor para vender ou matérias-primas extras que reuniram, o que é útil dada a quantidade de viagens que você precisa fazer para adquiri-los de outra forma. Os locais e ilhas que você visita estão espalhados em um mapa surpreendentemente amplo, dividido em diferentes regiões com estilos diferentes – florestas de pinheiros nebulosas, cidades industriais, fazendas de arroz agrário – e conforme os pedidos dos espíritos se tornam mais complicados, você tem que viajar para mais longe para obter diferentes tipos de recursos. Enquanto algumas coisas podem ser compradas ou colhidas nas cidades, outras são reunidas por meio de eventos onde, talvez, você deva navegar no coração de uma tempestade para pegar um raio, pular para pegar as explosões cintilantes de arco-íris de meteoros chovendo do céu, ou até mesmo andar pelas costas de um dragão. Cada um desses eventos também está ligado a um dos espíritos, então você fica com muitas memórias interessantes depois que elas se vão. Apesar de ter gasto algumas horas crizando lentamente o mapa, fique atento que existe um sistema de viagem rápida no game que promete facilitar a jornada do jogador e de Stella. Mesmo assim, valeu a pena investir meu tempo e também parar e conversar com todos. Mesmo que Spiritfarer tenha seja uma experiência que evoque sentimentos tristes na sua essência, o game também é muito engraçado, especialmente nos diferentes diálogos. Mesmo personagens de apoio (como um um tubarão que administra a loja de atualização de navios e adora trocadilhos) recebem detalhes amorosos.

Uma insustentável leveza

Os destinos em si também são muito divertidos, com muitos baús e segredos escondidos, e missões secundárias um pouco estranhas. Frequentemente, isso envolve uma boa quantidade de seções de plataforma para que, no fim, Stella possa encontrar santuários no mundo onde habilidades podem ser desbloqueadas, como deslizamentos, saltos duplos e até uma tirolesa. Porém, essa é provavelmente a parte mais fraca de Spiritfarer, já que o salto parece um pouco lento, e a tirolesa muito desajeitada de se de utilizar. É um elemento necessário para progredir em sua jornada e ajudar seus amigos, mas poderia ter sido feito com maior cuidado. A boa notícia é que, embora você tenha que fazer e consertar coisas o tempo todo, o trabalho não se torna cansativo porque você não precisa de ferramentas, então você nunca terá que criar um novo martelo ou encher um regador, por exemplo. Você carrega tudo o que precisa com você na forma de um globo de luz mágico que se torna o que você precisa que seja no momento mais oportuno. Essa característica contrasta bem com a complexidade de quantos tipos diferentes de peixes, pedras e tecidos existem para manusear, e os controles elegantes também merecem uma menção aqui. Embora demore um pouco para se acostumar, você pode percorrer todos os menus, inventários e missões usando apenas um teclado. É possível, se você preferir, jogar Spiritfarer inteiramente com uma mão na posição WASD ou das flechas direcionais. No final das contas, tudo em Spiritfarer é assim. Medido, pensado, detalhado e, acima de tudo, gentil. Até mesmo o clima parece ter uma intenção, o ciclo do dia e da noite, as rotinas em que você entra. A forma como você interage com seus novos amigos é envolvente e, às vezes, você será surpreendido. Porém, é importante lembrar que, dado o tema do game, Spiritfarer provavelmente o deixará muito, muito triste, mas de uma maneira calorosa. De uma forma que faz você pensar em quem você perdeu, mas também no que eles deixaram com você e como você ainda está perto deles.

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